22.10.08

Direitos humanos

Direitos humanos (1ª parte)

Como faz algum tempo, voltei e quero compartilhar este texto com você, que não sei como, entre os trilhões de sites, chegou neste blog.

By: Luís Fernando Ferreira
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A vida humana é sagrada?
Não. A vida nunca mereceu respeito incondicional. Sempre houve coisas mais importantes: progresso, desenvolvimento, segurança nacional, 'utopias', etc.
Formas extremas de violência e negação da vida vingaram nos subterrâneos, e às vezes nos jardins, das sociedades ditas civilizadas. Mesmo assim, um certo pudor moral – ou 'verniz civilizatório' – sempre nos impediu de sustentar que nada há de sagrado no ser humano. A reverência à palavra “humanidade” persiste nos discursos oficiais, apesar dos desmentidos do mundo real. E a realidade é esta: o forte não gosta do fraco, o rico não gosta do pobre e o mundo pertence aos primeiros. O princípio regulador desse mundo é a violência.

Nunca foi fácil encarar essa verdade: de que nossa vida só tem relevância para nós próprios, e, no máximo, meia dúzia de pessoas chegadas. Difícil de aceitar. Porque existimos numa sociedade, pensamos que ela há de nos reservar um espaço de realização, que só nós podemos ocupar. Ousamos nos achar singulares, insubstituíveis, e gostaríamos de ser assim reconhecidos. Por todos. Mas não somos.

Como poderíamos? O mundo está superpovoado. Como falar em 'respeito à humanidade', com tanta gente obviamente sobrando? Não há trabalho para todos, nem um Estado benevolente que acolha os excluídos da produção. Os incapazes. Em todo o país, noticia-se que a Previdência Social nega auxílio a pessoas inválidas. Como viverão? Problema delas. 'Bem-estar social' é um 'luxo' a que os governos não podem mais se dar. De outro lado, o capitalismo chega a uma fase em que o sistema passa a se dissociar dos atores. A 'flexibilização' anula o trabalhador como agente econômico, torna-o supérfluo. Na visão da escritora Viviane Forrester, para as corporações de hoje, a maioria dos assalariados 'não é digna nem de ser explorada' (Forrester: O horror econômico).

As desigualdades sociais aumentam. 'Para muitos o mundo perdeu todo sentido e o não-sentido ou absurdo não pode suscitar senão condutas de puro ódio – ódio de si mesmo e do ambiente – ou uma agitação sem objetivo no seio de uma cultura de massa assediada pelas imagens da violência', observa o filósofo Alain Touraine no livro Um novo paradigma. Os indivíduos são reconhecidos pelo valor utilitário que têm – conferido arbitrariamente – , o que implica que não são pessoas. São coisas. Se há um 'sentimento do nosso tempo', seria este: a consciência antes difusa, e agora perfeitamente nítida, de que a vida humana não vale nada. Um cachorro manco nos comove mais. A brutalidade contra animais gera reações de revolta bem mais constantes que a crueldade rotineira contra homens e mulheres. E essa crueldade crescente e gratuita, sem outro fim que ela mesma, é de um tipo novo: é uma adaptação.

Os crimes contra a vida não se esgotam na morte. É indispensável fazer sofrer, torturar, queimar, esquartejar. Tais atos de negação extrema já foram 'raros', mas atingiram um grau de banalização desconcertante. São formas de auto-afirmação num mundo regido pela força, que descartou o ideal da civilização ('não há mais no que acreditar') e mergulhou na barbárie, agora tecnificada. Não são 'desvios de conduta', pois os assassinos não estão transgredindo nada. Ao contrário: entenderam que o desprezo à vida é a norma, ainda que disfarçada.
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Interressante né, amanhã publico a segunda parte.

Saudades

Saudades!!!!!!